Tiberíades

Sé titular, sufragânea de Citópolis, na Palestina Secunda. A cidade de Tiberíades foi fundada no lago em 17 a.C. por Herodes Antipas, tetrarca da Galileia, que deu a ela o nome do imperador reinante, Tibério. Como foram descobertas tumbas na época da sua fundação, os judeus se recusaram a habitar lá, e Herodes foi forçado a povoá-la com estrangeiros e pessoas de baixa extração (Josefo, “Ant. jud., ” XVIII, ii, 3). Não se sabe como era chamada anteriormente; S. Jerônimo a situa no sítio próximo a Recat, Emat, Ceneret ou Kinnereth, cidades de Neftali (Josué 19:35). Estima-se que a cidade teria um pouco mais de três milhas de circunferência. Apesar de Tiberíades ter dado nome ao lago vizinho e ser mencionada várias vezes nos Evangelhos, parece que jamais fora habitada por Cristo. Com a morte de Herodes Antipas em 41, Nero deu a cidade para Herodes Agripa II que fez Séforis, ou Diocesareia, sua capital. Na revolta dos judeus contra os romanos o povo de Tiberíades ficou ora do lado de um partido, ora do outro, e o historiador judeu Josefo, que foi governador da Galileia, apenas a conquistou após várias tentativas (“Bell. jud., ” II, xxi, 6; “Vita Josephi,” 18 e 54). Com a aproximação de Vespasiano ela foi submetida sem resistência e perturbação; os judeus preservaram o privilégio de habitar lá sozinhos, excluindo os pagãos, cristãos e samaritanos. Perto do final do século II o Sinédrio foi removido dali para Séforis juntamente com a escola talmúdica de Jamnia, donde saíram muitos rabinos famosos, dentre eles Juda Hakkodesh, que pouco depois codificou o vasto livro de leis e costumes conhecido como Mishná. Entre 230 e 270 o rabino Jochanan compôs a Guemará, suplemento da Mishná, e estes dois códigos são chamados de Talmude de Jerusalém. No século VI a escola de Tiberíades produziu o famoso Massorá, ou texto hebraico fixo da Bíblia. O rabino Bar Anina de Tiberíades deu lições em hebraico a S. Jerônimo.

A introdução do cristianismo data do tempo de Constantino, o Grande. Foi o Conde Joseph, um judeu convertido desta cidade que vivia em Citópolis, quem construiu a sua primeira igreja, talvez no terreno do Hadrianeum (um templo fundado pelo Imperador Adriano e que nunca foi concluído). Sob Constantino o patriarca judeu Hillel também foi convertido e batizado pelo bispo missionário que carregava o título de Tiberíades mas residia em outro lugar (P.G., XLI, 409-29). Dentre os seus bispos estiveram: João, presente no Segundo Concílio de Éfeso e no Concílio de Calcedônia em 449 e 451; João II, nos concílios de 518 e 536; George, em 553; Basílio, no século VIII (Le Quien, “Oriens christ., ” III, 705-10); Teodoro, em 808 (Tobler, “Itinerar. hierosolym., ” I, 304). Justiniano restaurou as muralhas da cidade (Procopius, “De aedificiis,” V, 9). Antigos peregrinos mencionam suas igrejas e sinagogas. Na ocupação dos Francos foi dada como feudo a Tancredo que fez dela sua capital. Uma nova cidade foi construída, igrejas restauradas, e uma diocese latina foi instituída, sufragânea de Nazaré. Muitos dos seus bispos residentes ou titulares são conhecidos (Du Cange, “Familles d’outre-mer,” 807; Le Quien, op. cit., III, 1301-04; Eubel, “Hierarchia catholica medii aevi,” I, 511; II, 275; III, 333). A sé grega jamais deixou de existir, mas há muito já não é a titular. Em 1187 após a derrota de Hatim, mais conhecida como a batalha de Tiberíades, a cidade e a fortaleza caíram em poder de Saladino. Em 1239 ela foi dada a Eudes de Montbeliard, mas cinco anos mais tarde o sultão do Egito a recuperou e massacrou a guarnição e os habitantes cristãos. O último judeu morreu em 1620 na passagem de Quaresimus, e apenas muçulmanos restaram. Os judeus retornaram depois disso. Dos cerca de 6500 habitantes, 4500 são judeus, 1600 muçulmanos, 185 católicos gregos, 35 latinos, 42 cismáticos gregos, e cerca de 20 protestantes dependentes da missão escocesa, que possui uma escola e um hospital. Os franciscanos têm uma igreja e uma enfermaria. A cidade, chamada Tabarieh, além das muralhas tem apenas ruínas insignificantes e muita sujeira.


Fontes

SMITH, Dict. of Gr. and Rom. Geog., s.v.; NEUBAUER, La geographie du Talmud (Paris, 1868), 207-14; GUERIN, Description de la Palestine: Galilee, I, (Paris, 1869-80), 250-63; THOMSEN, Loca sancta (Halle, 1907), III.