Concordâncias da Bíblia

Concordâncias da Bíblia são índices verbais para a Bíblia, ou listas de palavras bíblicas organizadas em ordem alfabética com indicações para habilitar o pesquisador a encontrar a passagem da Bíblia onde a palavra ocorre. Alguns simplesmente indicam a passagem; mas um concordâncias realmente bom cita o suficiente de uma passagem para refrescar a memória de alguém familiar com ela. Algumas vezes concordância é usado em referência a índices alfabéticos de assuntos bíblicos, que guiam alguém a todas as passagens da Bíblia referentes ao assunto em questão; porém como comumente empregado em inglês a palavra denota uma concordância verbal puramente, um buscador de texto. Tal trabalho é uma útil e, de fato, indispensável ajuda para todo estudante da Bíblia. Seu principal uso é permiti-lo localizar qualquer texto que ele lembre, ou localizar e obter precisamente qualquer texto vagamente lembrado, se pelo menos uma palavra importante dele for recordada. Concordâncias nas línguas originais estão sempre à mão de estudantes peritos em seus estudos exegéticos e críticos, ajudando-os indiretamente por suas indicações a verificar os vários tons de significados que as mesmas ou cognatas palavras podem ter, e assim, por exemplo, se provar útil na construção da teologia de um escritor ou uma época; traçar a história de palavras e assim obter uma pista do desenvolvimento das doutrinas conectadas com elas, ou das mudanças de pensamento e sentimento que tiveram lugar; para agrupar o vocabulário de um escritor ou de um documento, e assim reunir evidências para determinar a autoria ou data de escritos disputados; traçar a história de um personagem, uma raça, uma cidade, etc.; e para vários outros propósitos que cada estudante descobre por si mesmo no curso de seus estudos. Este artigo visa ser histórico, mas também, em parte, prático, ao indicar as melhores ajudas deste tipo.

Latim

As concordâncias verbais da Bíblia são uma invenção dos frades dominicanos. O texto que serviu de base para o seu trabalho foi naturalmente o da Vulgata, a bíblia da Idade Média. As primeiras concordâncias, completadas em 1230, foram empreendidas sob a coordenação de Hugo, ou Hugues, de Saint-Cher, que mais tarde se tornou cardeal, assistido, conta-se, por 500 companheiros dominicanos. Ela não continha citações, e era puramente um índice para passagens onde uma determinada palavra era encontrada. Estas eram indicadas por livro e capítulo (a divisão em capítulos havia sido recentemente inventada por Stephen Langton, Arcebispo da Cantuária) mas não por versículos, que apenas foram introduzidos por Robert Estienne em 1545. Em lugar dos versículos, Hugo dividiu os capítulos em sete partes quase iguais, indicadas pelas letras do alfabeto, a, b, c, etc. Este começo das concordâncias foi muito imperfeito, já que dava apenas uma lista das passagens, e nenhuma ideia do que a passagem continha. Era de pouca utilidade para os pregadores, portanto; consequentemente, para torná-la algo de valor para eles, três dominicanos ingleses acrescentaram (1250-1252) as citações completas das passagens indicadas. Esta completude de citações não é verificada nas concordâncias atuais, por falta de espaço; é provável, portanto, que as passagens indicadas fossem em bem menor número que aquelas encontradas em uma cópia completa das concordâncias de hoje em dia. A obra foi de alguma forma abreviada, retendo apenas as palavras essenciais das citações, nas concordâncias de Conrad of Halberstadt, um dominicano (1310), que obteve grande sucesso por causa de sua versão mais conveniente. Primeiras concordâncias a serem impressas, apareceram em 1470 em Estrasburgo, e alcançaram uma segunda edição em 1475. A obra maior da qual esta foi abreviada foi impressa em Nuremberg em 1485. Outro dominicano, John Stoicowic, ou Juan de Ragusa, vendo a necessidade em suas controvérsias de mostrar o uso bíblico de nisi, ex, e per, que foram omitidas nas concordâncias anteriores, começou (c. 1435) a compilação de praticamente todas as palavras indeclináveis das Escrituras; a tarefa foi completada e aperfeiçoada por outros e finalmente acrescentada como um apêndice às concordâncias de Conrad of Halberstadt na obra de Sebastian Brant publicada em Basileia em 1496. A obra de Brant foi frequentemente republicada em várias cidades. Ela serviu de base para as concordâncias publicadas em 1555 por Robert Estienne (Stephens), o distinto estudioso e impressor protestante francês. Estienne adicionou nomes próprios, corrigiu omissões, combinou as palavras indeclináveis com as outras em ordem alfabética e deu a indicação das passagens por versículos bem como por capítulos, por tudo isso levando a obra muito perto do seu modelo atual. Desde então muitas concordâncias latinas diferentes foram publicadas, das quais será suficiente citar “Concordantiæ Bibliorum juxta recognitionem Clementinam” de Plantinus (Antuérpia, 1599), que foi a primeira feita de acordo com o texto latino autorizado; “Repertorium Biblicum . . . studio. . . Patrum Ordinis S. Benedicti, Monasterii Wessofontani” (Augsburgo, 1751); “Concordantiæ Script. Sac.”, de Dutripon, em dois imensos volumes, as mais úteis de todas as concordâncias latinas, que oferece o suficiente de cada texto para que haja sentido completo (Paris, 1838; sétima ed. 1880; uma edição da mesma versão por G. Tonini, em Prado, 1861, reconhecida como praticamente completa); uma versão de Coornaert, pretendida para o uso dos pregadores (Bruges, 1892); as “Concordantiarum S. Scripturæ Manuale”, por H. de Raze, Ed. de Lachaud, e J.-B. Flandrin (13th ed., Paris, 1895), que, contudo, fornece mais uma seleção de textos que concordâncias completas; “Concordantiarum Universæ Scripturæ Sacræ Thesaurus”, pelos padres Peultier, Etienne, e Gantois (Paris, 1902). Nenhumas concordâncias latinas fornecem as palavras gregas ou hebraicas equivalentes às latinas mas o “Lexicon Græco-Latinum”, de Peter Mintert, do Novo Testamento são concordâncias além de um léxico, fornecendo as palavras em grego equivalentes às latinas e, no caso das palavras da Septuaginta, as equivalentes em hebraico também (Frankfort, 1728).

Hebraico

As primeiras concordâncias em hebraico foram obra de um judeu, Mordecai ou Isaac Nathan, que começaram em 1438 e foram finalizadas em 1448. Elas foram inspiradas pelas concordâncias latinas para ajudar na defesa do judaísmo, e foram impressas em Veneza em 1523. Uma edição melhorada delas por um monge franciscano, Marius de Calasio, foi publicada em 1621 e 1622 em quatro volumes. Ambas estas obras foram reimpressas diversas vezes, enquanto que outras concordâncias hebraicas do século XVI, por Elias Levita, que dizem superavam as de Nathan em muitos aspectos, permaneceu em manuscrito. Nathan e Calasio organizaram as palavras de acordo com as raízes hebraicas, as derivadas seguindo simplesmente a ordem em que apareciam nos livros hebraicos; os Buxtorfs, pai e filho, introduziram uma ordem nas derivadas por uma classificação gramatical de verbos e substantivos. A obra deles (Basileia, 1632) também continha muitas palavras novas e passagens anteriormente omitidas, e um apêndice de todas as palavras caldéias no A.T.; A edição de Buxtorf de Baer (1847) acrescentou certas partículas. As concordâncias de Fürst (Leipzig, 1840) foi durante um longo tempo o padrão. Ela corrigiu a de Buxtorf e a levou próximo da completude, imprimiu todas as palavras hebraicas com os sinais das vogais, e aperfeiçoou a ordem das derivadas. Cada palavra é explicada em hebraico e em latim. Fürst excluiu, contudo, os nomes próprios, os pronomes, e a maioria das partículas inflexionáveis, e cometeu muitas omissões e erros involuntários; sua classificação dos radicais às vezes é fantasiosa. “The Englishman’s Hebrew and Chaldaic Concordance” (Londres, 1843; terceira edição, 1866) é ainda muito útil. As concordâncias mais compreensíveis que já foram publicadas são aquelas de Mandelkern (Leipzig, 1896), que retificou os erros de duas predecessoras e forneceu referências omitidas. Apesar de a sua própria obra ter se mostrado frequentemente imperfeita, elas ainda são quase completas e de longe as melhores concordâncias hebraicas. Uma versão resumida delas foi publicada em 1900.

Septuaginta Grega

A primeira foi aquela de Conrad Kircher (Frankfort, 1607); a de Tromm, publicada em Amsterdã, 1718, fazia referência não apenas à Sept., mas também às versões de Áquila, Símaco, e Teodócio; ela permaneceu como padrão até os nossos dias (n.d.t.: início do séc. XX), quando deu lugar para as “Concordance to the Septuagint and other Greek Versions of the Old Testament” de Hatch e Redpath (Oxford, 1892-97). Estas são um belo trabalho e comumente consideradas tão perfeitas quanto o conhecimento acadêmico atual permite. Elas incluem concordâncias para os livros deutero-canônicos e apócrifos do A.T., e para as reminiscências das versões que formam parte da Hexapla de Orígenes. Os equivalentes hebreus do grego, quando conhecidos, também são fornecidos. Referências a nomes próprios foram omitidas, cujas quais, contudo, foram acrescentadas em um suplemento publicado em 1900. Devemos esperar uma edição verdadeiramente crítica da Sept., contudo, antes de podermos ter concordâncias finais e perfeitas. As “Handy Concordance to the Septuagint” de Bagster (Londres, 1887) apenas oferece as referências, sem citações.

Novo Testamento Grego

As concordâncias mais antigas do Novo Testamento grego são aquelas de Birken ou Betulius (Basileia, 1546), Henry Estienne (Paris, 1594), e Erasmus Schmid (Wittenberg, 1638), cujas obras foram duas vezes revisadas e republicadas. Durante a última metade do século XIX, as concordâncias padrão do N. T. foram aquelas de Bruder (Leipzig, 1842; 4a ed., 1888). Seu principal defeito era que ela foi praticamente baseada nos textus receptus, apesar de visar, em suas últimas edições, a fornecer também as variantes principais. As melhores, sem vida, são as “Concordance to the Greek Testament” de Moulton e Geden, de acordo com o texto de Westcott e Hort, Tischendorf, e dos Revisores Ingleses (Edinburgo e Nova York, 1897). Estas incluem todas as leituras marginais. No caso de uma interpretação estar sob disputa entre estas autoridades, o fato é solucionado. Os equivalentes hebraicos de todas as citações no Novo Testamento são fornecidos; as relações das palavras do N. T. grego com a Septuaginta e outras versões gregas do A.T., bem como com o seu uso clássico, são indicadas. Duas outras concordâncias úteis, especialmente para queles não muito familiarizados com o grego, são “Englishman’s Greek Concordance to the New Testament”, por G. V. Wigram (Londres, 1839, 2a ed. 1844), e “Critical Greek and English Concordance of the New Testament” de Hudson (Boston, 1875), que contém referências às variantes de interpretações principais.

Siríaco

O “Lexicon Syriacum” de Charles Schaaf (Leida, 1709) praticamente serve ao propósito de uma concordância à versão peshito.

Inglês

As concordâncias em inglês mais antigas foram publicadas em meados do século XVI, a primeira por T. Gybson em 1535 (apenas para o N. T.), e a segunda em 1550 por John Marbeck. As mais famosas pertencem ao século XVIII e são a obra de Alexander Cruden. Primeiramente publicada em 1738, ela alcançou várias edições ainda durante a vida do autor e tem sido reeditadas e reimpressas repetidamente até os dias de hoje. Simplificações tem sido publicadas e que às vezes tentam se passar pela obra completa. A obra de Cruden não é realmente uma concordância completa, e omite especialmente várias referências a nomes próprios, mas a sua última edição tinha uma virtude, ausente nas melhores concordâncias de hoje em dia, que atribui-se aos católicos especialmente, a saber, suas concordâncias aos livros deutero-canônicos, também chamados de apócrifos, do Antigo Testamento, que, contudo, geralmente não são reimpressas. Com esta exceção, ela é longamente ultrapassada pelas três grandes concordâncias dos nossos dias, aquelas de Young, Strong, e Walker. As “Analytical Concordance to the Bible” de R. Young (Edimburgo, 1879-84), uma versão de concordâncias quase completa, têm a grande virtude de indicar os originais hebraico, caldeu ou grego das palavras inglesas, e de distinguir os vários significados que podem estar subjacentes em uma mesma palavra. As “Exhaustive Concordance of the Bible” de Strong (Nova York, 1894) fazem referência apenas ao texto em inglês; por conta disso dificilmente ela possa ser melhorada, visto ser extremamente raro encontrar um texto que falte nesta de Strong. Como um localizador de texto, ela é insuperável; mas carece das vantagens especiais das de Young mencionadas acima. Elas contém também concordâncias comparativas entre as versões Autorizada e Revisada inglesas, útil para um estudante de alterações introduzidas. O seu peso e importância reais, contudo, fazem delas um livro formidável de se ter. As “Comprehensive Concordance to the Holy Scripture” de Walker (Boston, 1894) são um volume de tamanho conveniente, e quase tão completas quanto as de Strong. Uma excelente “Complete Concordance to the Revised Version of the New Testament”, de J. A. Thoms, foi publicada em Londres, 1884. As obras de Wigram e Hudson sobre o N. T. grego são também muito úteis ao leitor de inglês.

Nenhumas concordâncias da bíblia católica inglesa foram publicadas, e dificilmente se pode dizer que alguma seja necessária, exceto pelos livros deutero-canônicos; as últimas concordâncias em inglês bastam, com a exceção notada, para suprir as necessidades de qualquer leitor inteligente. Para concordâncias em outras línguas modernas, consulte os artigos de Mangenot e Kaulen.