Pão é um dos dois elementos absolutamente necessários para o sacrifício da Eucaristia. Não é possível se determinar a partir do texto sagrado se Cristo usou pão de mesa ordinário ou algum outro pão especialmente preparado para a ocasião. Na Igreja Ocidental os pães do altar eram provavelmente de formato arredondado. Pesquisas arqueológicas demonstram isto pelas pinturas encontradas nas catacumbas, e o Papa S. Zeferino (201-219 d.C.) chama o pão do altar “coronam sive oblatam sphericae figurae“. Nas igrejas orientais eles são redondos ou quadrados. Antigamente os leigos apresentavam a farinha da qual os pães eram formados. Na Igreja Oriental os pães eram feitos por virgens consagradas; na Igreja Ocidental, por padres e clérigos (Bento XIV, De Sacrif. Missae, I, seção 36). Este costume está ainda em voga na Igreja Armênia. As evidências documentais mais antigas de que os pães do altar eram feitos em finas bolachas é a resposta que o Cardeal Humberto, legado de S. Leão IX, deu em meados do século XI a Miguel Cerulário, Patriarca de Constantinopla. Estas bolachas eram às vezes muito grandes, e delas pedaços menores eram quebrados para a Comunhão dos leigos, de onde vem a palavra “partícula” para as hóstias pequenas; mas menores eram usadas quando apenas o celebrante comungava.
Para uma válida consagração as hóstias devem ser:
- feitas de farinha de trigo,
- misturadas com água natural pura,
- cozidas em um forno, ou entre dois moldes de ferro aquecidos, e
- elas não poderiam estar corrompidas (Miss. Rom., De Defectibus, III, 1).
Se a hóstia não é feita de farinha de trigo, ou é misturada com farinha de um outro tipo em tal quantidade que não possa ser chamada de pão de trigo, ela não pode ser usada (ibid.). Se não for usada água natural, mas destilada, a consagração se torna de valor duvidoso (ibid., 2). Se a hóstia começar a se deteriorar, seria uma grave ofensa usá-la, embora seja considerada matéria válida (ibid., 3.) Para uma consagração lícita:
- o pão deve ser, atualmente sem fermento (ázimo) na Igreja Ocidental, mas fermentado na Igreja Oriental, exceto entre os Maronitas, os Armênios, e nas Igrejas de Jerusalém e Alexandria, onde é ázimo. É provável que Cristo tenha usado pão ázimo na instituição da Sagrada Eucaristia, porque os judeus não tinham permissão de ter pão fermentado em suas casas nos dias dos Ázimos. Alguns autores são da opinião de que até o século X ambas as Igrejas Oriental e Ocidental usavam pão fermentado; outros mantém que pão sem fermento era usado desde o começo na Igreja Ocidental; outros ainda sustentam que pão ázimo ou com fermento eram usados indiferentemente. S. Tomás (IV, Dist. xi, qu. 3) sustenta que, no começo, tanto no Oriente como no Ocidente o pão sem fermento era usado; que quando a seita dos Ebionitas surgiu, que queria que a Lei Mosaica deveria ser obrigatória para todos os convertidos, o pão fermentado foi usado, e quando esta heresia cessou os latinos voltaram a usar pão ázimo, mas os gregos mantiveram o uso de pão fermentado. O pão fermentado pode ser usado na Igreja Latina se após a consagração o celebrante adverte para o fato de que a hóstia perante ele tem algum defeito substancial, e que nenhum outro tipo de pão que não seja fermentado pode ser encontrado naquele momento (Lehmkuhl, n. 121, 3). Um padre latino viajando pelo Oriente, em locais onde não exista igrejas do seu rito, pode celebrar com pão fermentado. Um padre grego viajando pelo Ocidente pode, sob circunstâncias similares, celebrar com pão sem fermento. Para o propósito de ministrar o Viático, se não houver pão sem fermento à mão, alguns dizem que o fermentado pode ser usado; porém Sto. Ligório, (bk. VI. n. 203, dub. 2) diz que a opinião mais provável dos teólogos é de que isto não pode ser feito.
- As hóstias devem ter sido feitas recentemente (Rit. Rom., tit. iv, cap. i, n. 7). As rubricas não especificam o termo recentes ao falar das hóstias. Em Roma, os padeiros dos pães do altar são obrigados a fazer solene declaração juramentada de que eles não venderão pães com mais de quinze dias (de fabricação), e S. Carlos, por um estatuto do Quarto Sínodo de Milão, prescreveu que as hóstias com mais de vinte dias não devem ser usadas na celebração da missa. Na prática, portanto, hóstias mais velhas três semanas não devem ser usadas.
- Redondas na forma, e não quebradas.
- Limpas e claras, e de uma camada fina, e do tamanho conforme o costume regular na Igreja Latina. Em Roma as hóstias maiores são de cerca de 8,12 cm de diâmetro; em outros lugares elas são menores, mas devem ter pelo menos 6,9 cm de diâmetro. A menor hóstia para a Comunhão dos leigos deve ter entre 3,55 cm de diâmetro (Schober, S. Alphonsi Liber de Caeremoniis Missae, p. 6, nota de rodapé 9). Quando uma hóstia maior não pode ser obtida a missa deve ser rezada em privado com uma hóstia pequena. Em casos de necessidade, de modo a permitir o povo cumprir o preceito de ouvir a Missa, ou na administração do Viático, a Missa também pode ser rezada com uma hóstia pequena porém, como os liturgistas dizem, para evitar escândalo os fiéis devem ser avisados.
Como regra a imagem de Cristo crucificado deve ser impressa na hóstia maior (Cong. Sac. Rit., 6 de abril de 1834), mas o monograma do Santo Nome (Ephem. Lit., XIII, 1899, p. 686), ou o Sagrado Coração (ibid., p. 266) pode também ser adotado.
Os pães do altar assumiram diferentes nomes à medida que foram sendo referenciados à Eucaristia como um sacramento ou como um sacrifício: pão, dom (donum), mesa (mensa) aludem ao Sacramento, que foi instituído para a nutrição de nossa alma; vítima de oblação, hóstia, aludem ao sacrifício. Antes do século X a palavra “hóstia” não era empregada, provavelmente porque antes daquele tempo a Sagrada Eucaristia era considerada mais frequentemente como um sacramento que como um sacrifício, daí os Padres usarem expressões como comunhão (sinaxia), ceia (coena), partilha do pão, etc., mas atualmente a palavra “hóstia” é usada quando nos referimos à Eucaristia seja como um sacramento seja como um sacrifício. Na liturgia ela é usada:
- para o pão antes de sua consagração, “Suscipe sancte Pater . . . hanc immaculatam hostiam” (Ofertório da Missa);
- para o Cristo sob a aparência das Espécies Eucarísticas, “Unde et memores . . . hostiam puram, hostiam sanctam, hostiam immaculatam” (Missa, após a consagração).
Durando diz que a palavra hóstia é de origem pagã, derivada da palavra hostio, atacar/ataque, que se refere à vitima oferecida aos deuses após a vitória, mas é também de origem bíblica, como representando a matéria, ou vítima, do sacrifício, e.g. “expiationis hostiam” (Êxodo 29:36).