(Hebraico Yakob; Septuaginta Iakob; N.T. Grego Iakobos; um dos nomes favoritos entre os judeus mais recentemente).
O filho de Zebedeu e Salomé (Cf. Mateus 27:56; Marcos 15:40; 16:1). Zahn afirma que Salomé era filha de um sacerdote. Tiago é denominado “Maior” para distingui-lo do apóstolo Tiago “Menor”, que era provavelmente menor em estatura. Não sabemos nada da juventude de São Tiago. Ele era irmão de João, o discípulo amado, e provavelmente o mais velho dos dois.
Seus pais parecem ter sido pessoas de posses como se demonstra pelos seguintes fatos:
- Zebedeu era um pescador do Lago da Galiléia, que provavelmente morava em ou próximo a Betsaida (João 1:44), talvez em Cafarnaum; e tinha alguns barqueiros ou homens contratados como seus empregados (Marcos 1:20).
- Salomé foi uma das mulheres piedosas que posteriormente seguiam a Cristo e “o assistiam com as suas posses” (cf. Mateus 27:55, sq.; Marcos 15:40; 16:1; Lucas 8:2 sq.; 23:55–24:1).
- São João era pessoalmente conhecido do sumo-sacerdote (João 18:16); e deve ter tido meios de cuidar da Mãe de Jesus (João 19:27).
É provável, de acordo com Atos 4:13, que João (e consequentemente seu irmão Tiago) não tenham recebido o treinamento técnico das escolas rabínicas; neste sentido eles eram iletrados e sem qualquer posição oficial entre os judeus. Porém, de acordo com a posição social dos seus pais, eles devem ter sido homens de uma educação ordinária, dentro dos padrões comuns da vida judaica. Eles tiveram oportunidades frequentes de entrar em contato com o estilo de vida e o idioma grego, que já era amplamente espalhado pelo litoral do Mar da Galiléia.
Relação de São Tiago com Jesus
Alguns autores, comparando João 19:25 com Mateus 27:56 e Marcos 15:40, identificam, e provavelmente de maneira correta, Maria mãe de Tiago Menor e de José em Marcos e Mateus com “Maria de Cléofas” em João. Como o nome de Maria Madalena ocorre nas três listas, eles identificam portanto Salomé em Marcos com “a mãe dos filhos de Zebedeu” em Mateus; finalmente eles identificam Salomé com “a irmã de sua mãe” em João. Eles supõem, para esta última identificação, que quatro mulheres são designadas por João 19:25; o siríaco “Peshito” dá a leitura: “Sua mãe e a irmã de sua mãe, e Maria de Cléofas e Maria Madalena.” Se esta última suposição estiver certa, Salomé era uma irmã da Santíssima Virgem Maria, e Tiago Maior e João eram primos de primeiro grau do Senhor; isto pode explicar o discipulado dos dois irmãos, o pedido de Salomé e a sua própria requisição dos primeiros lugares no Reino dos Céus, e a recomendação do Senhor da Santíssima Virgem ao seu próprio sobrinho. Mas é duvidoso se os gregos admitem esta construção sem a adição ou a omissão do kai (e). Logo o relacionamento de São Tiago com Jesus permanece duvidoso.
Sua vida e apostolado
A origem galiléia de São Tiago de certa forma explica a energia do temperamento e a veemência do caráter que rendeu a ele e a São João o nome de Boanerges, “filhos do trovão” (Marcos 3:17); a raça galiléia era religiosa, dura, industriosa, brava, e a mais forte defensora da nação judaica.
Quando João Batista proclamou o reino do Messias, S. João se tornou um discípulo (João 1:35); ele foi direcionado ao “Cordeiro de Deus” e depois trouxe seu irmão Tiago até o Messias; o significado óbvio de João 1:41, é que Sto. André encontrou seu irmão (S. Pedro) primeiro e que depois S. João (que não nomeia a si mesmo, de acordo com sua habitual e característica reserva e silêncio sobre si mesmo) encontrou seu irmão (S. Tiago). O chamado de S. Tiago ao discipulado do Messias é contado em uma narração paralela ou idêntica por Mateus 4:18-22; Marcos 1:19 sq.; e Lucas 5:1-11. Os dois filhos de Zebedeu, bem como Simão (Pedro) e seu irmão André que tinham uma parceria entre eles (Lucas 5:10), foram chamados pelo Senhor no Mar da Galiléia, onde os quatro juntamente com Zebedeu e seus empregados estavam envolvidos com sua ocupação ordinária da pesca. Os filhos de Zebedeu “abandonaram a barca e seu pai e o seguiram” (Mateus 4:22), e se tornaram “pescadores de homens”.
São Tiago foi depois com os outros onze chamado ao apostolado (Mateus 10:1-4; Marcos 3:13-19; Lucas 6:12-16; Atos 1:13). Em todas as quatro listas os nomes de Pedro e André, Tiago e João formam o primeiro grupo, um proeminente e seleto grupo (cf. Marcos 13:3); especialmente Pedro, Tiago e João. Estes três apóstolos apenas foram admitidos para estar presentes no milagre da ressurreição da filha de Jairo (Marcos 5:37; Lucas 8:51), na Transfiguração (Marcos 9:1; Mateus 17:1; Lucas 9:28), e na Agonia no Getsêmani (Mateus 26:37; Marcos 14:33). O fato do nome de Tiago aparecer sempre (exceto em Lucas 8:51; 9:28; Atos 1:13 — Texto Grego) antes do de seu irmão parece insinuar que Tiago era o mais velho dos dois. Vale notar que Tiago nunca é mencionado no Evangelho de João; este autor observa uma humilde reserva não apenas em relação a si mesmo, mas também sobre os membros de sua família.
Muitos incidentes espalhados através dos sinóticos sugerem que Tiago e João tinha aquela característica particular indicada pelo nome “Boanerges”, filhos do trovão, dado a eles pelo Senhor (Marcos 3:17); eles eram ardentes e impetuosos em seu zelo evangélico e com temperamento severo. Os dois irmãos demonstraram seu temperamento inflamado contra “um certo homem expulsando demônios” em nome de Cristo; João, respondendo, disse: “Nós [indicando provavelmente Tiago] lho proibimos, porque não é dos nossos” (Lucas 9:49). Quando os samaritanos se recusaram a receber o Cristo, Tiago e João disseram: “Senhor, queres que mandemos que desça fogo do céu e os consuma?” (Lucas 9:54; cf. 9:49).
Seu martírio
Na última jornada para Jerusalém, sua mãe Salomé foi até o Senhor e disse a Ele: “Ordena que estes meus dois filhos se sentem no teu Reino, um à tua direita e outro à tua esquerda” (Mateus 20:21). E os dois irmãos, ainda ignorantes da natureza espiritual do Reino Messiânico, se uniram à sua mãe em sua ávida ambição (Marcos 10:37). E na afirmação de que eles estariam dispostos a beber do cálice que Ele beberia, e de serem batizados com o batismo do Seu sofrimento, Jesus garantiu que eles iriam compartilhar de Seu sofrimento (Marcos 10:38-39).
Tiago recebeu a coroa do martírio catorze anos depois desta profecia, em 44 d.C.. Herodes Agripa I, filho de Aristobulus e neto de Herodes, o Grande, governava naquele tempo como “rei” sobre uma dominação mais vasta que a de seu avô. Seu grande objetivo era agradar os judeus em cada aspecto, e ele mostrava grande respeito pela Lei Mosaica e pelos costumes judaicos. Perseguindo esta política, na ocasião da Passagem de 44 d.C., ele perpetrava crueldades contra a Igreja, que rapidamente crescia irritando os judeus. O temperamento zeloso de Tiago e da parte da comunidade cristã judaica que ele comandava provavelmente levou Agripa a escolhê-lo como a primeira vítima. “Ele matou Tiago, irmão de João, à espada.” (Atos 12:1-2). De acordo com a tradição, a qual, como aprendemos de Eusébio (História da Igreja II.9.2-3), fora recebida de Clemente de Alexandria (no sétimo livro de suas “Hypotyposes” perdidas), o acusador que levou o apóstolo a julgamento, movido por sua confissão, se tornou ele próprio um cristão, e eles foram decapitados juntos. Como Clemente atesta expressamente que a narrativa foi dada a ele “por aqueles que vieram antes dele”, esta tradição tem uma melhor fundação que muitas outras tradições e lendas a respeito dos trabalhos apostólicos e morte de São Tiago, que são relatadas na latina “Passio Jacobi Majoris”, nos etíopes “Atos de Tiago”, etc.
São Tiago na Espanha
A tradição que afirma que Tiago Maior pregou o Evangelho na Espanha, e que seu corpo fora transladado para Compostela, levanta considerações mais sérias.
De acordo com esta tradição, São Tiago Maior, tendo pregado o cristianismo na Espanha, retornou à Judéia e foi condenado à morte por ordem de Herodes; seu corpo foi milagrosamente transladado para Iria Flávia no noroeste da Espanha e posteriormente para Compostela, cuja cidade, especialmente durante a Idade Média, se tornou um dos mais famosos destinos de peregrinação do mundo. O voto de fazer uma peregrinação à Compostela para honrar o sepulcro de São Tiago ainda é reservado ao papa, que sozinho com seu direito próprio ou ordinário pode dispensar dele. No século XII foi fundada a Ordem dos Cavaleiros de São Tiago de Compostela.
Com relação à pregação do Evangelho na Espanha por São Tiago Maior, muitas dificuldades foram levantadas:
- S. Tiago sofreou o martírio em 44 d.C. (Atos 12:2) e, de acordo com ao tradição antiga da Igreja, ele não tinha ainda deixado Jerusalém àquele tempo (cf. Clemente de Alexandria, Stromata VI; Apolônio, citado por Eusébio, História da Igreja VI.18).
- S. Paulo em sua Epístola aos Romanos (58 d.C.) expressa a intenção de visitar a Espanha (Romans 15:24) logo após ter mencionado (15:20) que ele não “queria edificar sobre fundamento lançado por outro.”
- O argumento ex silentio: embora a tradição de que Tiago tenha fundado a Sé apostólica na Espanha fosse corrente no ano 700, nenhuma menção com certeza acerca de tal tradição é encontrada nos escritos genuínos dos antigos escritores nem nos antigos concílios; a primeira menção ao certo nós encontramos no século XIX, em Notker, um monge de S. Galo (Martiról., 25 de julho), Walafried Strabo (Poema de XII Apost.), dentre outros.
- A tradição não foi admitida por unanimidade depois, enquanto numerosos estudiosos a rejeitaram. Os bolandistas entretanto a defendem (ver Acta Sanctorum, julho, VI e VII, onde outras fontes são fornecidas).
A autenticidade das sagradas relíquias de Compostela foi questionada e ainda é posta em dúvida. Ainda que S. Tiago Maior não tenha pregado a religião cristã na Espanha, seu corpo pode ter sido trazido a Compostela, e esta já era a opinião de Notker. De acordo com outra tradição, as relíquias do Apóstolo são mantidas na igreja de São Saturnino em Toulouse (França), mas não é improvável que tais relíquias sagradas tenham sido divididas entre duas igrejas. Um forte argumento em favor da autenticidade das sagradas relíquias de Compostela é a Bula de Leão XIII, “Omnipotens Deus,” de 1o de novembro de 1884.