Dependência essencial de Deus do universo (criação e conservação)
No desenvolvimento do argumento da Causa Primeira nós vimos que o mundo é essencialmente dependente de Deus, e esta dependência implica em primeiro lugar que Deus é o Criador do mundo — o produtor de todo o seu ser ou substância — e em segundo lugar, supondo sua produção, que sua continuidade em existir a cada momento é devida ao Seu poder sustentador. Criação significa a total produção de um ser a partir do nada, i.e. o trazer de um ser à existência para substituir a absoluta inexistência, e a relação de Criador é a única relação concebível na qual o Infinito pode ter para com o finito. Teorias panteístas, que representariam as variedades de seres no universo como as muitas determinações ou emanações ou fases da única e mesma realidade eterna — Substância de acordo com Spinoza, Puro Ego de acordo com Fichte, o Absoluto de acordo com Schelling, a Pura Ideia ou Conceito Lógico de acordo com Hegel — simplesmente abundam em contradições, e envolvem, como já foi atestado, uma negação da distinção entre o finito e o infinito. E a relação de Criador para com as criaturas permanece a mesma ainda que admitida a possibilidade de eterna criação; o Infinito deve ser o produtor do finito ainda que seja impossível fixar um tempo no qual a produção pudesse ainda não ter lugar. Para um certo conhecimento do fato de que o ser criado, e o próprio tempo, tiveram um começo definido no passado, podemos nos permitir confiar na revelação, embora, como já declarado, a ciência sugira o mesmo fato.
Também é claro que se o universo depende de Deus para a sua produção, ele deve também depender Dele para a sua conservação ou continuidade no ser; e esta verdade será talvez melhor representada pela explicação do muito falado princípio da divina imanência como correto e contrabalançado pelo igualmente importante princípio da Divina transcendência.
Divina imanência e transcendência
Aos deístas é atribuída a visão — ou pelo menos uma tendência para a visão — de que Deus, tendo criado o universo, o deixou a seguir o seu próprio curso de acordo com leis fixas e cessou, por assim dizer, de tomar qualquer interesse adicional em, ou responsabilidade pelo que pudesse acontecer; e a imanência divina é sugerida, às vezes com força demais, em oposição a esta visão. Deus é imanente, ou intimamente presente, no universo porque o Seu poder é requerido a cada momento para sustentar as criaturas no ser e para contribuir com elas em suas atividades. Conservação e contribuição são por assim dizer, continuações da atividade criadora, e implicam uma igualmente íntima relação de Deus para com as criaturas, ou ainda uma igualmente íntima e incessante dependência das criaturas de Deus. O que quer que as criaturas sejam, elas são por virtude do poder conservador de Deus; o que quer que elas façam, elas o fazem por virtude do concurso de Deus. Não é negado, é claro, que as criaturas são verdadeiras causas e produzem efeitos reais; mas elas são apenas causas secundárias, sua eficiência é sempre dependente e derivada; Deus como a Causa Primeira é um sempre ativo cooperador em suas ações. Isto é verdadeiro mesmo quanto aos atos livres de uma criatura inteligente como o homem; devendo apenas ser acrescentado neste caso que a responsabilidade divina cessa no ponto onde o pecado ou o mal moral toma parte. Visto que o pecado como tal, contudo, é uma imperfeição, nenhuma limitação é assim imposta à supremacia de Deus.
Mas para que a insistência na imanência divina não degenere em Panteísmo — e há uma tendência nesta direção da parte de muitos escritores modernos — é importante ao mesmo tempo enfatizar a verdade da transcendência de Deus, para recordar, em outras palavras, o que já foi afirmado diversas vezes, que Deus é um simples e infinitamente perfeito Ser pessoal cuja natureza e ação em seu próprio caráter como divino infinitamente transcende todos os possíveis modos do finito, e não pode, sem contradição, ser formalmente identificado com estes.
Possibilidade do sobrenatural
De um estudo da natureza nós inferimos a existência de Deus e deduzimos certas verdades fundamentais a respeito de Sua natureza e atributos, e Sua relação com o universo criado. E destas é fácil deduzir uma verdade ainda mais importante, com uma breve menção da qual nós podemos adequadamente concluir esta seção. Por mais maravilhoso que possamos considerar que o universo seja, nós reconhecemos que nem em sua substância nem nas leis pelas quais a sua ordem é mantida, até onde a razão sem auxílio pode vir a conhecê-las, esgotam o poder infinito de Deus ou revelam prefeitamente a Sua natureza. Se então for sugerido que, para suplementar o que a filosofia ensina sobre Ele próprio e Seus propósitos, Deus queira favorecer as criaturas racionais com uma revelação pessoal imediata, na qual Ele auxilia os poderes naturais da razão confirmando o que eles já sabem, e comunicando a eles muito que eles não poderiam de outra forma saber, será visto imediatamente que esta sugestão não contém qualquer impossibilidade. Tudo o que é necessário para realizá-la é que Deus deva ser capaz de se comunicar diretamente com a mente criada, e que os homens devam ser capazes de reconhecer com suficiente certeza que a comunicação é realmente divina — e que ambas estas condições são capazes de serem cumpridas nenhum teísta pode negar logicamente (ver REVELAÇÃO; MILAGRES). Sendo assim, se seguirá que o conhecimento assim obtido, sendo garantido pela autoridade Daquele que é a infinita Verdade, é o mais certo e confiável conhecimento que podemos possuir.