Haarlem

DIOCESE DE HAARLEM (HARLEMENSIS).

Uma das sés sufragâneas da Arquidiocese de Utrecht na Holanda. A cidade de Haarlem é a capital da Província da Holanda do Norte, que fica a cerca de nove milhas de Amsterdã. Sendo a Diocese medieval de Utrecht mal adaptada por conta de sua grande extensão para se opor com sucesso às nascentes heresias, foi dividida por Paulo IV na Bula “Super universas orbis” (12 de maio de 1559) em uma arquidiocese e cinco sés sufragâneas. A principal destas cinco era a Diocese of Haarlem. Naquela época ela apenas compreendia a atual Província da Holanda do Norte com uma pequena porção da Holanda do Sul. O direito de nomeação foi outorgado ao Rei Filipe da Espanha e seus sucessores. Em 10 de março de 1561, Pio IV, sucessor de Paulo IV , incorporou a Abadia de Egmond à diocese perpetuamente como a “mensa episcopal” (ou meio principal de renda) em sua Bula “Sacrosancta Romana” (10 de março de 1561). Um dia depois (11 de março de 1561), Pio IV emitiu a Bula “Ex injuncto nobis”, na qual as novas dioceses foram definidas, 11 cidades e 151 villarejos foram mencionados no documento papal. A paróquia de Haarlem, dedicada a S. Bavo, foi elevada a catedral.

O primeiro bispo foi Nicolas van Nieuwland, anteriormente assistente do Bispo de Utrecht. Ele foi nomeado através de um Breve datado de 26 maio de 1561. Em abril de 1564, ele presidiu um sínodo, cujas decisões ainda não foram impressas. Quando após da Revolta Iconoclasta de 1566, então felizmente evitada em Haarlem, o Duque de Alva fora enviado para punir a Holanda, o bispo lhe escreveu uma carta tentando convencê-lo a lidar de forma leniente com as pessoas culpadas de sua diocese. Em 1569, devido à sua lentidão, causada em parte pela gota da qual estava sofrendo, ele foi obrigado por Alva a enviar sua resignação a Bruxelas e para Roma.

O segundo bispo foi Godfried van Mierlo, anteriormente Provincial dos Dominicanos na Província da Baixa Saxônia, um homem notável por sua virtude, zelo e eloquêncie. Inicialmente nomeado para atuar como vigário-geral (sede vacante), o Papa Pio V o fez Bispo de Haarlem e Prelado de Egmond em 11 de dezembro de 1570. Ele estabeleceu o capítulo episcopal em 1571, e convocou um sínodo no mesmo ano. Seus esforços para fazer o clero e o laicato se conformarem às regulamentações do Concílio de Trento foram logo interrompidos pela revolta da Holanda contra a Espanha. Em 30 de abril de 1572, Haarlem se uniu ao lado do Príncipe de Orange, o líder da revolta, mas, quando em julho seguinte uma tropa de soldados estrangeiros e grosseiros chegaram para guarnecer a cidade, o bispo se refugiou em no convento cisterciense Ter Kamere próximo a Bruxelas. Um ano mais tarde, quando os espanhóis recapturaram a cidade, ele retornou à sua sé episcopal, e em 15 de agosto de 1573, consagrou novamente a profanada e pilhada catedral. Pelos três anos seguintes Haarlem permaneceu em poder dos espanhóis; o bispo fez tudo o que pôde pelo bem espiritual e temporal de seu rebalho, o qual, já disperso e empobrecido pelo cerco, era então atormentado pela guarnição espanhola. Negociações foram abertas com o Príncipe de Orange em Veere, e em janeiro de 1577, o bispo pessoalmente tomou parte em uma transação que resultou no juramento de um compromisso, que concedia direitos iguais ao culto religioso para católicos e protestantes e entregou uma das igrejas dentro dos muros da cidade, a Onzelieve Vrouwekerk em Bakenessergracht, para a última seita. Este estado de coisas durou por apenas um ano e meio, pois no Corpus Christi de 29 maio de 1578, aconteceu a chamada Nona Harlemiana. Com a conivência das autoridades o pacto juramentado foi escandalosamente quebrado. Às dez horas da manhã, quando a procissão do Santíssimo Sacramento estava apenas partindo de dentro da catedral, soldados com espadas em punho adentraram o edifício sagrado, atacaram pessoas indefesas, saquearam os fiéis, machucaram os sacerdotes, e cometeram toda sorte de sacrilégios. O bispo escapou, fugiu da cidade disfarçado de um pastor de gado, foi para Münster, onde atuou como bispo auxiliar e viveu em grande pobreza até a sua morte em Deventer, em 1587.

Em 1592 todos os católicos da Holanda sob governo civil calvinista foram postos sob a jurisdição de um vigário apostólico, toda a diocese de Haarlem então se tornou uma porção da Missio Batava. Os católicos permaneceram em maioria por um longo período em sua diocese anterior, mas foram excluídos de todos os cargos públicos e a prática religiosa foi proibida por lei sob pena de multa e exílio. Mesmo assim o antigo culto continuou em segredo, seja com a conivência dos magistrados em troca de grandes subornos, ou mesmo com o risco de aprisonamento e exílio. Inicialmente havia apenas uns poucos padres seculares, mas em 1592, pelo desejo expresso de Clemente VIII, os dois primeiros jesuítas chegaram para assistir os seculares, sendo seguidos no século XVII de membros de várias outras ordens.

Na segunda metade do século XVII a persguição começou a diminuir; se tornou mais e mais visível que a Católica não podia ser exterminada e as exigências de contrapartida foram decididamente o oposto de medidas extremas. Os celeiros e casas-capelas católicas foram aceitas e os padres foram tolerados mediante o pagamento de uma multa. Desta maneira o número de católicos se manteve praticamente o mesmo na maioria das cidades e mesmo predominante em muitos vilarejos. No começo do século XVIII ocorreu o cisma jansenista, desde muito tempo preparado pela inveja e disputas entre os cleros secular e regular. Na antiga Diocese de Haarlem os principais padres seculares, o chamado Capítulo de Haarlem, encolheu devido a excomunhão e cisma, e a grande maioria do clero e laicato se manteve fiel a Roma. Em consequência dos distúrbios, a missão foi, em 1721, colocada diretamente sob o núncio papal em Bruxelas, que exercia suas funções sob o título de vice-superior, até que a nunciatura fosse abolida em 1794. No geral os católicos foram, na maior parte do século XVIII, permitidos de praticar a sua religião sem muito impedimento, desde que obtendo o consentimento do governador e se reunindo em igrejas que não pudessem ser reconhecidas como tal exteriormente; entretanto, a sua exclusão de todos os cargos públicos foi rigorosamente mantida. A revolução Holandesa de 1795 trouxe uma certa mudança nesta desigualdade entre os cidadãos católicos e não-católicos. Em 1796 a suprema autoridade da República Batava, a Assembleia Nacional, declarou abolida a Igreja Estatal Calvinista, decretou igualdade de direitos no exercício da prática religiosa para todas as crenças e concedeu igualdade perante a lei para todos os cidadãos do Estado. Esses artigos foram subsequentemente incorporados na constituição de 1798.

Ainda assim, muitos anos ainda teriam que se passar antes que os católicos pudessem conseguir de fato completa fruição dos direitos garantidos a eles. Àquela época a missão era governada, com autorização da Propaganda, por Luigi Ciamberlani (1794-1828), que foi inicialmente obrigado a residir em Münster. Em 1799, o vice-superior, fazendo uso de seus direitos legalmente conferidos, fundou um seminário em Warmond perto de Leyden, que ainda floresceu como o grande seminário da atual Diocese de Haarlem. O Rei Luís Bonaparte (1806-1810) fez muito pelos católicos da Holanda. Em sua cidade residencial — primeiro Haia, e depois Amsterdã — ele tinha sua própria capela, na qual ele admitia o a presença pública e os fiéis assistiam os serviços religiosos de seus dois capelães, ambos homens excelentes e prêtres non assermentés (padres que se recusaram a tomar o juramento requirido pelo governo francês). Ele contribuiu com grandes fundos para habilitar os católicos a construir e restaurar suas igrejas; ele requisitou ao vice-superior para estabelecer sua moradia permanente na residência real de Amsterdã, e admitiu alguns católicos em altos cargos do governo. Ele até mesmo pretendia ter Amsterdã selecionada como uma sé arquiepiscopal, mas a constante oposição de seu irmão, o Imperador Napoleão, o obrigou a abdicar em 1810. Sob o reinado direto de Napoleão de 1810-1813, os católicos da velha diocese compartilharam em grande parte das perdas financeiras provocadas por sua política comercial (Bloqueio Continental) e de suas operações financeiras (tierçage), mas no tocante à religião eles foram deixados em paz. O Arcipreste da Holanda e Zelândia, que sob o vice-superior em Amsterdã dirigiu os assuntos da missão nessas províncias, repetidas vezes obteve do ministro de culto a dispensa do serviço militar para os estudantes de teologa de Warmond.

O reinado do Rei William I (1815-1840) não foi favorável aos católicos. Embora a constituição de 1815 tenha concedido a eles igualdade de direitos com os protestantes, o rei dava muitos ouvidos aos conselheiros que odiavam o exercício da liberdade dos católicos. Em 1817 um seminário preparatório chamado Hageveld e destinado para a educação dos futuros aspirantes ao sacerdócio na Holanda e Zelândia, foi aberto próximo a Velsen. Em 1847 ele foi transferido para Voorhout próximo a Leyden, e embora, é claro, muito ampliado, ainda serve ao mesmo propósito. Apesar de muito admirado como um local de virtude e aprendizado, William ordenou que fosse fechado, em 1825, porque desejava forçar aos futuros padres a educação anticlerical de seu Colégio Filisófico em Louvain. Ele também continuou a excluir os católicos completamente de posições oficiais. Em 1827 ele firmou uma concordata com Leão XII, pela qual Amsterdã foi novamente escolhida como uma das duas sés episcopais da Holanda do Norte, mas ela nunca foi posta em execução, principalmente em consequência da subsequente revolta da Bélgica. Seu sucessor, o generoso William II (1840-1849), estava muito mais favoravelmente inclinado para os católicos; mesmo assim a intolerância era muito poderosa a ponto de permitir que mesmo este monarca de pensamento liberal pusesse a concordata em execução. Contudo, em 1848 uma revisão de viés liberal da constituição foi tomada, e essa estava destinada a avançar rapidamente a influência dos católicos, como ficou provado no mesmo ano pela chegada do recém-nomeado vice-superior, Monsenhor Belgrado, em Haia como o primeiro legado papal permanente para William II. Nos anos seguintes várias correspondências foram enviadas para Roma, requisitando ao papa a restauração do governo episcopal para os católicos da Holanda, como algo necessário para o seu desenvolvimento espiritual e social e sem oposição de nenhuma lei do Estado.

A nova diocese

Em 4 de março de 1853, Pio IX aderiu aos desejos fervorosos dos numerosos católicos holandeses, e por seu Breve “Ex qua die arcano” restaurou a hierarquia eclesiástica para a Holanda. Pelo bem da tradição Utrecht foi novamente transformada em arquidiocese, mas a Diocese de Haarlem era agora muito maior que em 1559, com toda a Holanda do Sul e as ilhas da Província da Zelândia tendo sido adicionadas a ela. Ela contava então com 199 igrejas e capelas, servidas por 317 padres, seculares e regulares, enquanto o laicato era contado em 259.577 almas. Os seguintes bispos ocuparam desde então a Sé de Haarlem: (1) F. J. van Vree (1853-1861), um homem de excepcionais talentos de organização. Nos sete anos de seu episcopado ele erigiu uma capítulom circunscreveu os limites das paróquias, algumas das quais foram designadas para os regulares, definiu regras para os sacristãos e guardiões dos pobres católicos, teve especial cuidado com as crianças negligenciadas e mulheres caídas, e preparou um catecismo para uso na sua diocese. (2) G. P. Wilmer (1861-1877). Em 1867 ele convocou e reuniu um sínodo diocesano, o primeiro depois de três séculos, no qual o assentamento provisório da diocese como arranjado por seu predecessor foi finalmente concluído e declarado permanente. Zeloso pela veneração dos santos de sua diocese, ele comprou a localidade próxima de Brielle, onde, de acordo com os argumentos decisivos do Professor Smit de Warmond, quatro padres seculares e quinze regulares foram cruelmente assassinados por causa da sua em 1572, e onde seus corpos haviam sido enterrados. Ele também abriu em Roma um processo canônico para obter aprovação da veneração “imemorial” da Beata Lidwina de Schiedam. Ele regularizou as contribuições para o Peter’s-pence para toda a sua diocese. Nos termos do “Mandamus” do coletivo dos bispos da Holanda (1868), ele foi incansável em seus esforços para a preservação, o sucesso e o aumento das escolas confessionais católicas em sua diocese. Para alcançar este fim ele nomeou um comitê de clérigos e proeminentes leigos (União para a promoção da educação católica na Diocese de Haarlem), e uniu todos os professores católicos em um corpo separado. O seminário preparatório de Hageveld foi consideravelmente expandido durante o seu episcopado. Finalmente ele firmemente encorajou o secretáriodiocesano, J. J. Graaf, a estabelecer o museu episcopal em Haarlem, e a começar com seu colega, I. F. Vregt, a publicação de um periódico, “Contribuições para a História da Diocese de Haarlem”. (3) P. M. Snickers (1877-1883). Em decorrência da grande afluência de peregrinos ao campo dos mártires próximo de Brielle, este bispo fez com que uma ampla capela e galerias cobertas fossem construídas no local. Para abrigar as ricas coleções de livros e preciosos manuscritos ele ergueu um prédio separado próximo do seminário de Warmond. Ele aprovou para sua diocese as estátuas de Gregorius Vereeniging (Sociedade de São Gregório) para a promoção do cantochão litúrgico e da música sacra, fundada por M. J. A. Lans, professor em Hageveld. Em 1883 o bispo foi transferido para a Sé Episcopal de Utrecht. (4) C. J. M. Bottemanne (1883-1903). Embora aos sessenta anos de idade quando fora sagrado bispo, este homem enérgico fez muito para o desenvolvimento da diocese. As escolas aumentaram durante o seu espiscopado para mais de 200, de modo que até nos vilarejos uma paróquia sem uma escola católica se tornou uma exceção, enquanto que nas cidades muitas escolas foram abertas. Do seu clero ele selecionou homens háveis para atuar como inspetores da educação católica; em Hoorn ele abriu um liceu católico. Ele mostrou não menos diligência ao lidar com a questão social. Em 1888, três anos antes da promulgação da Encíclica Papal “Rerum Novarum”, uma Liga Católica Romana de Operários (De R.K. Volksbond) foi fundada sob os seus auspícios. Esta liga ou união tinha a intenção de acolher todos os operários católicos da diocese, e em 1903 contava com 16.000 membros. Pouco tempo depois os operários-mestres foram também reunidos em uma liga especial, De R.K. Gildenbond (A Liga de Guildas Católicas Romanas). O Bispo Bottemanne favoreceu amplamente as reuniões públicas, às quais ele atendeu em muitas ocasiões. Em 1897 ele lançou a pedra fundamental de uma importante adição ao seminário em Warmond, que foi solenemente dedicada dois anos depois por ocasião do centenário da instituição. Durante o seu episcopado vinte e cinco novas paróquias foram estabelecidas e setenta igrejas consagradas. Na celebração do jubileu de ouro de seu sacerdócio (1896), o Bispo Bottemanne instituiu Adoração Perpétua ao Santíssimo Sacramento de modo que dia e noite durante todo o ano o Santíssimo Sacramento fica solenemente exposto para adoração em alguma igreja ou caapela da diocese. A nova catedral de S. Bavo é outra evidência da condição florescente da diocese. Este edifício nobre — novo, apesar de não ter uma concepção surpreendente — foi projetado pelo arquiteto holandês Joseph Cuypers. Está situada em um novo quarteirão de Haarlem, majoritariamente habitado por operários, que a utilizam como sua sede paroquial. Inicialmente apenas o coro e o transepto foram construídos, levando três anos para serem concluídos, e em 2 de maio de 1898, o velho bispo teve a felicidade de consagrar esta parte de sua grande obra. (5) A. J. Callier (1903–). Durante onze anos ele tinha sido vigário-geral da diocese, quando foi apontado como sucessor de Monsenhor Bottemanne. Os planos traçados e parcialmente executados por seu predecessor foram então avançados. A questão educacional foi objeto de especial atenção de sua parte. Em 1904 uma escola para meninos foi inaugurada próxima à nova catedral; em 1906 o liceu foi transferido de Hoorn para um novo e espaçoso edifício em Beverwyk. Com relação à educação superior dos católicos, estava ainda sofrendo sob um sistema antigo e de parcialidade e exclusão; mas, como as novas leis educationais lhes permitiam ter seus próprios professores nas universidades estatais, desde que pagando por eles, o Fundo de São Radbout (S. Radbouts Stichting) foi criado pelos católicos para assegurar correligionários como professores, com a intenção adicionao de preparar o caminho para uma universidade católica. Para avançar na promoção da solução para a questão social, o bispo lançou os fundamentos de uma sociedade para a assistência e o desenvolvimento de cidadãos de classe média engajados no comércio, um grande número deles pertencentes à sua diocese. Onde fosse possível clubes católicos para jovens foram instituídos para proteger a juventude dos perigos especiais de sua época e para promover seu desenvolvimento intelectual e religioso. Quando vigário-geral para o seu predecessor, o atual bispo fora o espírito animador da construção da nova catedral, e ele pessoalmente idealizou o esquema de simbolismo repleto de significado para este edifício sagrado. Em 1903 a obra foi retomada, e três anos depois o exterior da grande catedral era finalizado, com exceção das duas torres e da decoração da fachada ocidental. Quanto à decoração do interior, ela ainda permanece objeto da especial atenção do bispo, e tem sido efetuada (1909) com a maior deliberação. Ambas a decoração e o mobiliário devem ser coerentes com o valor artístico do prédio em si, e grandes artistas de mentes originais, como Brom, Toorop, e Mengelberg, tiveram ampla oportunidade de mostrar seu excepcional talento. A diocese conta (1909) com 234 paróquias, servidas por 650 padres, seculares e regulares; o laicato é calculado em cerca de 510.000 almas.

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